Rio de Janeiro, 12 de junho de 2019.
Amado,
Acho que eu deveria saber pela expressão em seu rosto que você jamais seria capaz de esconder meu segredo. A verdade corta como uma adaga, tem certeza que você quer ouvir? Eu acho que nunca estive pronta.
Eu teria entrado na igreja por você, teria sorrido durante horas e cumprimentado cada um dos familiares que me odiavam. Eu poderia ser a mãe dos seus filhos e ter continuado a usar aquela aliança feita sob medida para outro dedo. Eu poderia fingir que meu amor por você era o mesmo de antes e ignorar todos os meus desejos ocultos.
Sete anos sem mim não é o mesmo que sete anos comigo, você sabe disso, né? E nem mil estrelas com o seu nome seriam capazes de me fazer ficar. Se liberte desse sentimento, pois nada me faria mudar de ideia.Se eu tivesse apenas me retirado da sua vida, você teria aceitado?
Se eu tivesse sido honesta contigo, você poderia ter feito o mesmo?
Será que algum dia você vai aceitar sua parcela de culpa ou vai continuar despejando ela apenas em mim?
Desculpe, mas você deixou de ser minha prioridade quando sentou confortavelmente naquela cadeira cinza e me observou fazer todas as coisas que você deveria ter feito por nós. O papel de vítima nunca combinou comigo e você soube aproveitar disso muito bem, agindo como se seu amor devesse ser celebrado. E então, quando me libertei, te deixei em ruínas, mas não sem antes desmoronar também...
A minha dor cabe perfeitamente na palma das suas mãos gigantescas. Então, eu sento e te observo brincar comigo feito uma marionete, atendendo aos seus desesperos noturnos e te ouvindo ler cartas de repúdio sobre mim enquanto eu observava a caixa de remédios, me perguntando quantos daqueles seriam necessários.
Eu apenas tentei me segurar em algo enquanto eu caía do precipício, mas onde estavam meus amigos? Eu caí do pedestal que você construiu para mim e quebrei em mil partes. Perdi as contas de quantas vezes precisei varrer os cacos de mim que estavam espalhados pela casa que era nossa.
Eu sento e te observo vestir a capa do homem traído, rodeado pelos amigos que eram meus, enquanto você conta a eles o quão ingênuo você foi por me amar. E eu concordo com cada palavra, porque acho tudo isso pouco para alguém que te fez chorar. Eu ignoro as vezes que vi sua sombra me seguir pelas ruas da cidade; ignoro as palavras cruéis despejadas em momentos de fúria; ignoro todos as bandeiras vermelhas que balançam na minha janela.
Eu aceitei o papel de vilã porque achei que seria melhor pra você. Cadê meu oscar? Uma atuação impecável dessas merece um prêmio, não? Eu me mantive firme ao dizer "não" repetidas vezes quando me implorou para voltar, não me perdi no personagem. Você teve seu desfecho, afinal. E logo eu, que não sou dada a "felizes para sempre", fui a vilã dessa narrativa totalmente manipulada. Eu assumi meus erros e arquei com as consequências. Será que você pode dizer o mesmo? Será que aquele anel servirá na terceira vítima do seu amor doentio?
Eu dei tudo de mim enquanto esperava sua retribuição, e você ainda tem coragem de me perguntar por que eu desisti de nós? Você é um tolo. Um amor como esse não acaba do dia da noite, amado, ele morre aos poucos... Seu erro foi estar ocupado demais, andando com muletas e se queixando sobre a vida, fazendo mil promessas de um futuro tão distante.
Esse é o meu desfecho, sou eu dizendo que sim, o problema também era você. E aquela velha sensação familiar de finalmente dizer a coisa certa na hora certa toma conta de mim de novo.
Eu sento e te observo seguir em frente com a sua reputação intocável, enquanto eu me justifico para pessoas que eu nem conheço. Mas eis aqui uma promessa: jamais ser tão ingênua ao ponto de esquecer de ser cuidadosa comigo. Aprendemos uma importante lição juntos... amar não é mesmo suficiente.
Isso não é mais um "até breve", é um desfecho.
Atenciosamente,
minha nova versão