Vasculhei a gavetas de coisas antigas e encontrei um vestido que sempre amei; azul, com algumas flores brancas e costas nuas. Por um momento divaguei nas lembranças que me permiti acessar e recordei momentos felizes, os quais me deram uma nostalgia danada. "Não corro perigo", pensei, e quando vi eu estava lá novamente, no passado, revivendo todas aquelas emoções, do lado de fora do castelinho que eu construí em volta de mim. O passado cheirava intensidade; perdi a lucidez por alguns segundos, mas parte de mim estava ainda no presente, certificando-se que eu não fosse sugada dos pés à cabeça. Cheguei a cogitar morar nesse passado, juro que cogitei, porém fui arrancada dele após perceber o perigo, que era eminente. Acordei no hoje, e hojear não é um verbo fácil de se conjugar, percebe? É complexo, árduo e obscuro, e de obscura já basta eu, imersa em toda essa bagunça de roupas espalhadas. Encarei o vestido e me vi nele: Será que é arriscado experimentar? Devo eu considerar essa possibilidade?
Subestimei o passado, eu sei, e saí sem armadura nenhuma. Dei vários passos até o presente e parei ao me ver desistindo. Ao olhar para trás, ele estava ali me esperando subir na garupa. Subi. Arrisquei. Duvidei. Senti. Tremi. Sonhei. E, então, fui sugada até o presente em que eu tentava entrar naquele belo vestido azul. Não me cabia mais.
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