Quando eu era mais nova minha mãe dizia pra mim todas as vezes que eu fazia pirraça: "Engole o choro, menina!". E, contra a minha vontade, eu formava um nó na minha garganta com toda a fúria e toda a dor que ali se acumulava. Todo dia era a mesma coisa: Eu engolia toda a minha vontade de gritar pro mundo que minha dor merecia atenção e acumulava, aqui dentro, mais e mais caixinhas trancadas.
Eu fui crescendo, e mesmo a minha mãe não me dizendo mais essas coisas, engolir o choro se tornou um hábito. Esqueci o sabor salgado das lágrimas, que só apareciam ocasionalmente quando eu me emocionava. Depois de algum tempo, quando questionada, percebi que chorar não é um verbo que eu conjugo muito, além de não ter muito treino pra fazer isso de forma discreta. Quando eu choro, eu desabo, faço uma tempestade nos meus olhos até não conseguir mais encontrar o ar em meus pulmões.
Hoje olhei lá pra fora e vi a chuva cair com tanta facilidade que abri as caixinhas aqui de dentro. O que eu não esperava era abrir tantas caixinhas preenchidas de choros que foram engolidos por mim. Abrir as caixas talvez tenha sido uma das tarefas mais difíceis que eu enfrentei, mas necessária. Me permitir sentir gosto da lágrima na língua: e gostei.
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